quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Confissão de Fé de Westminster: Da Escritura Sagrada

Pr. Daniel Carneiro

I- A Escritura Sagrada: A Regra da Igreja

O capítulo um, bem como toda a Confissão de Fé chama a Bíblia de “Escritura Sagrada”, “Escritura”, “Palavra de Deus escrita” e “Palavra”. Estes termos são usados para se referir a todos os livros do Velho e do Novo Testamentos, os quais foram dados “por inspiração de Deus” (2 Tm 3.16; 2 Pd 1.20,21).
No livro de Timóteo aparece a palavra “Inspirada por Deus”, Theopneustos em grego, e significa “do Espírito de Deus”. Ou seja, a Escritura é obra do Sopro de Deus. A Confissão de Fé, só aceita como inspirados os livros que estão no Velho e no Novo Testamentos. Ela não aceita os chamados livros apócrifos. Eles não fazem parte do cânon sagrado, e não são devem ser considerados de mais autoridade que quaisquer outros escritos humanos.
O termo apócrifo, tem o sentido de algo oculto. Esta palavra é usada para se referir às escrituras espúrias, não inspiradas, para as quais a Igreja Católica Romana reivindica um lugar no cânon do Velho Testamento. São elas: Tobias, Sabedoria, Judite, Eclesiástico, Baruque, e os dois livros de Macabeus. Também acrescentam ao livro de Daniel a História de Susana, o Cântico dos Três Moços e a História de Bel e o Dragão. Que estes livros não têm direito a um lugar no cânon sagrado, prova-se pelos seguintes fatos:
1- Nunca fizeram parte das Escrituras hebraicas. Sempre foram rejeitados pelos judeus, a quem foi confiada a guarda das Escrituras do Velho Testamento;
2- Nenhum deles jamais foi citado por Cristo ou pelos apóstolos;
3- Jamais fizeram parte da lista dos livros canônicos feita pelos pais da Igreja; e mesmo na Igreja Católica Romana, sua autoridade não foi aceita pelos homens mais eruditos e piedosos, até após a elaboração de um artigo de fé pelo Concílio de Trento, final do século XVI.
A confissão de Fé chama nossa atenção para o fato de que a Escritura Sagrada foi dada à Igreja para ser “a regra de fé e prática”. Isto é, a vida da Igreja deve ser governada pelos ensinos da Escritura: O culto, a doutrina, a prática cristã... Tudo tem de estar de acordo com a Escritura, pois, nEla está registrado “todo conselho de Deus” para nós.

II- A Escritura Sagrada e o Espírito Santo

A Confissão de Fé usa as seguintes expressões para falar sobre a relação do Espírito Santo e a Escritura:
  1. “A nossa plena persuasão e certeza da Sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela Palavra e com Palavra testifica em nossos corações”.
  2. “Reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Escritura”.
  3. “O Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura”.
Note a íntima relação que há entre o Espírito Santo e a Escritura. Ele é o autor da Escritura, e Ela é o instrumento em suas mãos (Ef. 6.17). Destas expressões aprendemos que O Espírito Santo é o único capaz de convencer os homens que a Escritura é a Palavra de Deus; Ele é o único capaz de iluminar o entendimento (a mente) dos homens para compreender o ensino da Escritura e sejam salvos; Ele é o único que deve determinar o que a Igreja deve crer e para isso, Ele fala à Igreja na Escritura. Ele não diz nada fora da Escritura. Ela é Seu manual.

III- A Necessidade da Escritura Sagrada

Por que a Escritura teve de ser escrita? Por algumas razões:
  1. Porque Deus desejou que os homens tomassem conhecimento da Sua vontade sobre a salvação.  A obra da criação era insuficiente para este fim.
  2. Para melhor preservar e propagar a verdade de Deus.
  3. Para o seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo.
Deus nos deu a Escritura para nos ensinar e nos lembrar, o tempo todo, qual a Sua vontade e o que devemos fazer para agradá-lo. A Escritura é afinal, a nossa “regra de fé e prática”. Diante do exposto, a Confissão de Fé afirma: “Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”.
Deus antigamente se revelava através de sonhos, visões, línguas, profecias etc. Hoje, Ele fala conosco somente pela Escritura, a Sua revelação escrita. Lemos a pouco a seguinte expressão: “O Espírito Santo falando na Escritura”. Este é o modo normativo pelo qual Ele fala hoje (Hb 1.1,2). Neste texto aparece o verbo “falar” – “falado, falou”. Este verbo, em grego, está no tempo chamado aoristo (lalésas e elalesen). O tempo aoristo aponta para a ação completa. Assim, o texto de Hebreus nos diz que Deus falou através dos profetas e também do Filho e terminou de falar em ambos os casos. Ele hoje, então, nos fala pelo que está registrado na Escritura, que é o resumo do que os profetas e o Filho falaram.
A Confissão de Fé acrescenta: “À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens” (Dt 4.2; 12.32; Ap 22.18,19). Se as novas revelações e as tradições concordam com a Escritura, dizendo o que a Escritura afirma, é desnecessária. Se elas discordam da Escritura, perdem todo o valor, pois elas não podem anular a Palavra de Deus. O que deve prevalecer em todos os casos é a Palavra inspirada e escrita.
Levantemos mais uma vez um dos grandes lemas da Reforma: SOLA SCRIPTURA!!!!

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Sobre o autor:
O Pr. Daniel Carneiro da Silva é ministro da IPB e está a procura de campo. É professor de Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Religião e Sociedade Pós-Moderna e Símbolos de Fé no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), em Recife.

Extraído do site: ELEITOS DE DEUS

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